O nosso amigo JM do blog "Futebol À lupa" enviou-nos um excelente texto sobre o nosso ex-treinador e a necessidade de virarmos essa página da História do nosso Clube. O texto é longo mas merece leitura atenta...
"Mito. Endeusamento.
Essas são as palavras que melhor descrevem o ex-treinador do SL Benfica. De
quem é culpa maior? Sem dúvida da Comunicação Social que quer fazer de Jorge
Jesus o Rei Midas. Será que tudo o que toca vira ouro? É isso que tentarei
desmistificar neste texto. Não sou e nunca fui (com exceção da época 2009/2010)
seu fã. Reconheço-lhe méritos vários, mas continuo a considerar que os defeitos
superam largamente as virtudes.
Quem esteve nas
bancadas do Estádio da Luz no último sábado à noite, no jogo frente ao
Moreirense, sentiu sem dúvida a tal aura que a Comunicação Social construiu e
que o adepto comum engole às pás. Chora-se a ausência do Salvador. Sussurra-se
que com o Messias não se corria o risco de qualquer equipa vir à Luz ganhar com
uma perna às costas. Ao primeiro passe falhado desespera-se, como se mais três
pontos estivessem já perdidos (mas sem dúvida que as claques têm sido um
exemplo, gritando e apoiando de início ao fim… quiçá sendo esse o factor X que
tem levado a equipa a mostrar tanto coração, quando a cabeça parece estar ainda
à nora).
Acima de tudo, acho
que o que se vive é um caso de memória curta. Ao longo de 6 anos, metade deles
foram de total desespero, com duas das três épocas de insucessos a coincidirem
com vergonhosas debacles nos finais da temporada, onde se perderam duas ligas
para um treinador mediano, como Vítor Pereira, uma deles que levou o Messias ao
KO, de joelhos em pleno Estádio do Dragão, a que se seguiram as derrotas na Final
da Liga Europa e na Taça de Portugal (contra quem??). E mesmo na época da
glória, no ano seguinte, voltou a cair na final da Liga Europa, quando tinha
pela frente uma equipa que lhe era inferior.
Mas o que fica são
as últimas impressões e essas são um bicampeonato que fugia há 30 anos. Um
bicampeonato que em 2014/2015 teve um arranque muito similar ao deste ano. Uma
equipa à deriva na pré-época (uma vitória em 8 jogos, com uma goleada pelo
meio). Jogos sofríveis durante os primeiros meses da época, uma Supertaça ganha
nos penalties contra um adversário fraco, muitas vitórias conseguidas
in-extremis ao cair do pano, com adversários reduzidos a 10, a ganhar ou
empatar em plena Luz (curiosamente Arouca e Moreirense, que este ano tantos
problemas deram). O título chegou, mas para tal muito contribuiu a
incompetência do rival da Invicta que perdeu oportunidades de ouro para passar
para a liderança nas várias escorregadelas do Benfica. Já para não falar na
miserável campanha na Champions (há imagem do que aconteceu em 4 dos 5 anos em
que JJ treinou o SLB na maior competição da Europa).
Jesus, o criador?
E se os resultados
descritos poderão ajudar a reavivar a memória de muitos que sofrem nas bancadas
da Catedral, urge desmistificar o outro mito que faz de Jesus o maior criador
de todos os tempos do futebol luso. A sua capacidade para descobrir talentos e
recuperar jogadores é constantemente louvada pelos jornalistas. Ainda agora
quando se mudou para o rival de Alvalade, eram diários os títulos: Wallyson
será o novo Matic, Palhinha vai ser aposta, Ruben Semedo o novo trinco, Capel
vai voltar aos tempos áureos, Labyad vai rebentar, Iuri o novo craque, Gelson
delicia, etc., etc. Podia ficar aqui toda a tarde… Em comum estes jogadores têm
todos (com exceção de Gelson) o já nem estarem em Alvalade…
Olhando friamente
para os números de Jesus na Luz, são muito mais os casos de jogadores sem
talento que recrutou do que aqueles que foram valorizados. E mesmo os que foram
valorizados, muitos deles eram jogadores feitos e com currículos dignos de
registo.
Mas vamos a nomes.
Os três grandes feitos de Jesus, o Criador de Talentos, são Fábio Coentrão,
Matic e Enzo Pérez. Todos eles têm em comum o facto de terem encontrado noutros
lugares do terreno, que não os seus de origem, o seu real valor e terem
rebentado. Foram trunfos valiosos na Luz e saíram por quantias milionárias. Em
seis anos e em mais de 100 atletas, são 3!!
Contudo há vários
outros que se valorizaram também na Luz, com a diferença que já eram jogadores
de referência ou com potencial reconhecido para tal. A saber:
- Javi Garcia – Formado no Real
Madrid e internacional nas camadas jovens espanholas, cresceu na Luz, mas na
minha modesta opinião não foi nem será nenhum craque e mérito a quem o vendeu
por um valor alto demais para as suas capacidades
- Ramires – Já era internacional
brasileiro e um dos melhores médios do Brasileirão. Veio por um ano com
promessa de o SLB ser trampolim, o que se confirmou
- Saviola – Ex-jogador de Real e
Barça, dispensa apresentações (e na realidade só teve um ano de grande
rendimento)
- Gaitan – Era um dos melhores
extremos da Argentina e considerado um promissor atleta. Pergaminhos que
confirmou depois de largo período de adaptação… e o preço que custou demonstra
o seu valor também.
- Salvio – Outro dos mais
promissores jovens jogadores argentinos. Veio para a Europa muito cedo e acabou
por explodir na Luz. Era inevitável dado o seu talento. Nunca vingou no
Atlético pois as suas características não se adaptam ao estilo da equipa.
- Garay – Mais um que veio dos
galácticos de Madrid. Era craque e confirmou-o.
- Witsel – Desde muito jovem que lhe
prognosticavam um futuro brilhante. Já era um médio de referência na Europa que
só não voou para uma liga maior directamente do Standard devido a casos
disciplinares. Na Luz esteve apenas um ano e nem demonstrou evolução de monta.
- Rodrigo – Outro que veio do Real e
que era o melhor marcador de sempre dos sub-21 espanhóis. Apesar de ter grande
valor, continua por rebentar realmente (será que ainda o irá fazer?)
- Lima - Um dos melhores goleadores
da Liga Portuguesa, confirmou pergaminhos
- Siqueira - Experiente lateral em
La Liga, mostrou qualidades mas não é um fora-de-série como agora se vê pelo
pouco espaço em Madrid que quase o devolveu à Luz
- Markovic – Um dos mais promissores
extremos jovens do futebol europeu. Fez boa época mas ainda não rebentou,
vendo-se agora emprestado ao Fenerbahce.
- Júlio César – Já foi o melhor do
mundo, dispensa adjetivos.
- Samaris – Tem vindo a crescer e
adaptou-se a nova posição com Jesus. Já era titular da Seleção Grega e é mais
um que ainda poderá crescer mais.
Claro que todos estes jogadores estiveram em
bom nível e Jesus contribuiu decisivamente para tal. Porém, não se pode
esquecer o valor que cada um destes atletas já tinha e que independentemente do
técnico, dificilmente não seriam apostas ganhas, até pelo investimento que
representaram.
Já falamos dos que vingaram e que Jesus ajudou
a potenciar. Falemos agora das paletes de jogadores que Jesus pediu e tão
depressa chegaram como partiram. Curioso que a maioria tem em comum a
nacionalidade brasileira, (13 dos 30 aqui elencados) futebol que Jesus sempre
afirmou seguir com muita atenção e ser grande fã, o que não levanta grandes
dúvidas que foram contratações com o seu dedo. Aqui fica a lista:
- Júlio
César
- Patric
- Schaffer
- Airton
- Keirrison
- Éder Luís
- Alan Kardec
- Roberto
- Carole
- José Luis Fernandez
- Jara
- José Luis Fernandez
- Jara
- Eduardo
- Emerson
- Capdevilla
- Bruno César
-
Djaló
- Melgarejo
- Luisinho
- Ola John
- Michel
- Steven Vitória
- Bruno Cortez
- Mitrovic
-
Sulejmani
- Djuricic
-
Funes Mori
-
Loris Benito
- Luís Filipe
- Talisca
- Derley
Nota apenas para a
presença de Talisca pois até à data, com exceção do arranque prodigioso há um
ano, pouco ou nada provou até ao momento e muito duvido que alguma vez o venha
a mostrar.
Como se pode ver, o
número de contratações falhadas supera em muito os que vingaram. A estes e para
fechar este já longo artigo, acrescento os jogadores com talento que foram
corridos pela porta pequena dado não serem aposta do grande cérebro:
- João Cancelo
- André Gomes
- Bernardo Silva
-
Ivan Cavaleiro
- Nolito
-
Mora
- Miguel Rosa
Para quem se afirma
tão sábio e com capacidades únicas ao nível do desenvolvimento de talentos,
custa perceber como alguns destes pouco ou nenhum tempo tiveram para se
afirmar. Nota para as presenças de Rodrigo Mora, por ser uma das figuras do
River Plate desde que para lá foi depois de sair da Luz, e para Miguel Rosa,
que nunca teve um segundo de jogo quando já mostrou bastante valor. Talvez
nunca se chegasse a afirmar, é certo, mas nem lhe deu essa oportunidade.
A fechar, o
caracter também ficou sempre a aquém do desejável. Quim, despedido pela TV, e
Nuno Gomes, símbolo do clube e escorraçado como figura menor, vetado a minutos
breves de jogo (em que quase sempre marcava), são disso os maiores exemplos, a
juntar às muitas quezílias, tumultos, arrufos e afins que marcaram seis anos na
Luz.
Por tudo isto, é
preciso que os Benfiquistas não reduzam o período de Jesus ao sucesso. Este
texto demonstra bem que há muitos méritos, mas muitos deméritos. Nem tudo foram
rosas. Como agora não são só espinhos. O investimento é o menor desde a época
de Fernando Santos. Nos anos de Jesus o investimento foi sempre na casa dos 20
e muitos a 30 milhões. Rui Vitória nem 20 milhões teve para investir. Par além
de que um líder muito carismático saiu ao fim de seis anos. Qualquer transição
é complicada. Com uma pré-época mal planeada ainda pior. Por isso, ao invés de
suspiros bacocos pelo passado recente (que já foi corrido da Champions como
habitualmente), é preciso ser racional e perceber que é tempo de vacas magras e
que não será fácil esta fase. O sucesso poderá ser uma realidade, mas depois de
dois títulos e tão grande investimento dos rivais, o Benfica não pode ser o
principal candidato, por muito que custe a todos.
E se o sucesso se
afastar da Luz, certamente Rui Vitória será mais vítima que culpado. Não tem o
arrojo (e simultaneamente soberba e caganeirice) do seu antecessor e isso não
compra simpatias. Se dissesse que jogava o dobro e ganhava tudo a turba ia ao
rubro, mas um discurso ponderado num momento de vacas magras não me parece
errado.
É hora de apoiar,
mesmo que as coisas corram mal, e deixar os fantasmas do passado onde pertencem.
Ao passado. E sem esqueletos no armário pois não há motivo algum para tal!
Jesus é um treinador competente, com muita experiência e qualidade a nível de
Liga Portuguesa, mas muito aquém desse nível em termos europeus. Verdade é que
nunca ganhou nada em Portugal até chegar à Luz, tendo sido treinador de equipas
do meio e fundo da tabela durante 13 anos! Foi esse o tempo que levou para
chegar ao Restelo, depois a Braga e finalmente à Luz. Rui Vitória precisou de
bem menos tempo e com muitos mais resultados, sem nunca ter sido despedido...
Não concluo que Vitória é melhor que Jesus. O tempo o dirá, sabendo-se que os
argumentos ao dispor de ambos na Luz são, para já, bastante dispares.
Comparações à parte, Jesus fica na história do Benfica, mas apenas isso. Na
história. E o que interessa é o presente e o futuro!"
E que saiba o fulano não se reformou nem se finou... quem quiser que compre cachecol do JJ e se mude para o WC.
ResponderEliminarNão fazem cá falta
Marcio Santos
O mito tem pés de barro
ResponderEliminarO mito tem pés de barro
ResponderEliminarAo contrário de muitos benfiquistas fiquei feliz, e escrevi-o em alguns foruns, com a saída do "cérebro" do Benfica. Estava farto, fartinho do sujeito.
ResponderEliminarQuanto a Rui Vitória, embora não fosse a minha primeira escolha, acho-o um excelente treinador, com um discurso tranquilo. Com o actual plantel será muito difícil atingirmos o "tri", porque ao contrário da promessa de Vieira (mais uma) este treinador não tem, nem de perto, as mesmas condições do "catedrático". Seja como for apoio total a Rui Vitória.