sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Retirar os esqueletos do armário

O nosso amigo JM do blog "Futebol À lupa" enviou-nos um excelente texto sobre o nosso ex-treinador e a necessidade de virarmos essa página da História do nosso Clube. O texto é longo mas merece leitura atenta...
"Mito. Endeusamento. Essas são as palavras que melhor descrevem o ex-treinador do SL Benfica. De quem é culpa maior? Sem dúvida da Comunicação Social que quer fazer de Jorge Jesus o Rei Midas. Será que tudo o que toca vira ouro? É isso que tentarei desmistificar neste texto. Não sou e nunca fui (com exceção da época 2009/2010) seu fã. Reconheço-lhe méritos vários, mas continuo a considerar que os defeitos superam largamente as virtudes.
 
Quem esteve nas bancadas do Estádio da Luz no último sábado à noite, no jogo frente ao Moreirense, sentiu sem dúvida a tal aura que a Comunicação Social construiu e que o adepto comum engole às pás. Chora-se a ausência do Salvador. Sussurra-se que com o Messias não se corria o risco de qualquer equipa vir à Luz ganhar com uma perna às costas. Ao primeiro passe falhado desespera-se, como se mais três pontos estivessem já perdidos (mas sem dúvida que as claques têm sido um exemplo, gritando e apoiando de início ao fim… quiçá sendo esse o factor X que tem levado a equipa a mostrar tanto coração, quando a cabeça parece estar ainda à nora).
 
Acima de tudo, acho que o que se vive é um caso de memória curta. Ao longo de 6 anos, metade deles foram de total desespero, com duas das três épocas de insucessos a coincidirem com vergonhosas debacles nos finais da temporada, onde se perderam duas ligas para um treinador mediano, como Vítor Pereira, uma deles que levou o Messias ao KO, de joelhos em pleno Estádio do Dragão, a que se seguiram as derrotas na Final da Liga Europa e na Taça de Portugal (contra quem??). E mesmo na época da glória, no ano seguinte, voltou a cair na final da Liga Europa, quando tinha pela frente uma equipa que lhe era inferior.
 
Mas o que fica são as últimas impressões e essas são um bicampeonato que fugia há 30 anos. Um bicampeonato que em 2014/2015 teve um arranque muito similar ao deste ano. Uma equipa à deriva na pré-época (uma vitória em 8 jogos, com uma goleada pelo meio). Jogos sofríveis durante os primeiros meses da época, uma Supertaça ganha nos penalties contra um adversário fraco, muitas vitórias conseguidas in-extremis ao cair do pano, com adversários reduzidos a 10, a ganhar ou empatar em plena Luz (curiosamente Arouca e Moreirense, que este ano tantos problemas deram). O título chegou, mas para tal muito contribuiu a incompetência do rival da Invicta que perdeu oportunidades de ouro para passar para a liderança nas várias escorregadelas do Benfica. Já para não falar na miserável campanha na Champions (há imagem do que aconteceu em 4 dos 5 anos em que JJ treinou o SLB na maior competição da Europa).

Jesus, o criador?
E se os resultados descritos poderão ajudar a reavivar a memória de muitos que sofrem nas bancadas da Catedral, urge desmistificar o outro mito que faz de Jesus o maior criador de todos os tempos do futebol luso. A sua capacidade para descobrir talentos e recuperar jogadores é constantemente louvada pelos jornalistas. Ainda agora quando se mudou para o rival de Alvalade, eram diários os títulos: Wallyson será o novo Matic, Palhinha vai ser aposta, Ruben Semedo o novo trinco, Capel vai voltar aos tempos áureos, Labyad vai rebentar, Iuri o novo craque, Gelson delicia, etc., etc. Podia ficar aqui toda a tarde… Em comum estes jogadores têm todos (com exceção de Gelson) o já nem estarem em Alvalade…
 
Olhando friamente para os números de Jesus na Luz, são muito mais os casos de jogadores sem talento que recrutou do que aqueles que foram valorizados. E mesmo os que foram valorizados, muitos deles eram jogadores feitos e com currículos dignos de registo.
 
Mas vamos a nomes. Os três grandes feitos de Jesus, o Criador de Talentos, são Fábio Coentrão, Matic e Enzo Pérez. Todos eles têm em comum o facto de terem encontrado noutros lugares do terreno, que não os seus de origem, o seu real valor e terem rebentado. Foram trunfos valiosos na Luz e saíram por quantias milionárias. Em seis anos e em mais de 100 atletas, são 3!!
 
Contudo há vários outros que se valorizaram também na Luz, com a diferença que já eram jogadores de referência ou com potencial reconhecido para tal. A saber:
- Javi Garcia – Formado no Real Madrid e internacional nas camadas jovens espanholas, cresceu na Luz, mas na minha modesta opinião não foi nem será nenhum craque e mérito a quem o vendeu por um valor alto demais para as suas capacidades
- Ramires – Já era internacional brasileiro e um dos melhores médios do Brasileirão. Veio por um ano com promessa de o SLB ser trampolim, o que se confirmou
- Saviola – Ex-jogador de Real e Barça, dispensa apresentações (e na realidade só teve um ano de grande rendimento)
- Gaitan – Era um dos melhores extremos da Argentina e considerado um promissor atleta. Pergaminhos que confirmou depois de largo período de adaptação… e o preço que custou demonstra o seu valor também.
- Salvio – Outro dos mais promissores jovens jogadores argentinos. Veio para a Europa muito cedo e acabou por explodir na Luz. Era inevitável dado o seu talento. Nunca vingou no Atlético pois as suas características não se adaptam ao estilo da equipa.
- Garay – Mais um que veio dos galácticos de Madrid. Era craque e confirmou-o.
- Witsel – Desde muito jovem que lhe prognosticavam um futuro brilhante. Já era um médio de referência na Europa que só não voou para uma liga maior directamente do Standard devido a casos disciplinares. Na Luz esteve apenas um ano e nem demonstrou evolução de monta.
- Rodrigo – Outro que veio do Real e que era o melhor marcador de sempre dos sub-21 espanhóis. Apesar de ter grande valor, continua por rebentar realmente (será que ainda o irá fazer?)
- Lima - Um dos melhores goleadores da Liga Portuguesa, confirmou pergaminhos
- Siqueira - Experiente lateral em La Liga, mostrou qualidades mas não é um fora-de-série como agora se vê pelo pouco espaço em Madrid que quase o devolveu à Luz
- Markovic – Um dos mais promissores extremos jovens do futebol europeu. Fez boa época mas ainda não rebentou, vendo-se agora emprestado ao Fenerbahce.
- Júlio César – Já foi o melhor do mundo, dispensa adjetivos.
- Samaris – Tem vindo a crescer e adaptou-se a nova posição com Jesus. Já era titular da Seleção Grega e é mais um que ainda poderá crescer mais.

Claro que todos estes jogadores estiveram em bom nível e Jesus contribuiu decisivamente para tal. Porém, não se pode esquecer o valor que cada um destes atletas já tinha e que independentemente do técnico, dificilmente não seriam apostas ganhas, até pelo investimento que representaram.
Já falamos dos que vingaram e que Jesus ajudou a potenciar. Falemos agora das paletes de jogadores que Jesus pediu e tão depressa chegaram como partiram. Curioso que a maioria tem em comum a nacionalidade brasileira, (13 dos 30 aqui elencados) futebol que Jesus sempre afirmou seguir com muita atenção e ser grande fã, o que não levanta grandes dúvidas que foram contratações com o seu dedo. Aqui fica a lista:
- Júlio César
- Patric
- Schaffer
- Airton
- Keirrison
- Éder Luís
- Alan Kardec
- Roberto
- Carole
- José Luis Fernandez
- Jara
- Eduardo
- Emerson
- Capdevilla
- Bruno César
- Djaló
- Melgarejo
- Luisinho
- Ola John
- Michel
- Steven Vitória
- Bruno Cortez
- Mitrovic
- Sulejmani
- Djuricic
- Funes Mori
- Loris Benito
- Luís Filipe
- Talisca
- Derley
 
Nota apenas para a presença de Talisca pois até à data, com exceção do arranque prodigioso há um ano, pouco ou nada provou até ao momento e muito duvido que alguma vez o venha a mostrar.
Como se pode ver, o número de contratações falhadas supera em muito os que vingaram. A estes e para fechar este já longo artigo, acrescento os jogadores com talento que foram corridos pela porta pequena dado não serem aposta do grande cérebro:
- João Cancelo
- André Gomes
- Bernardo Silva
- Ivan Cavaleiro
- Nolito
- Mora
- Miguel Rosa
 
Para quem se afirma tão sábio e com capacidades únicas ao nível do desenvolvimento de talentos, custa perceber como alguns destes pouco ou nenhum tempo tiveram para se afirmar. Nota para as presenças de Rodrigo Mora, por ser uma das figuras do River Plate desde que para lá foi depois de sair da Luz, e para Miguel Rosa, que nunca teve um segundo de jogo quando já mostrou bastante valor. Talvez nunca se chegasse a afirmar, é certo, mas nem lhe deu essa oportunidade.
A fechar, o caracter também ficou sempre a aquém do desejável. Quim, despedido pela TV, e Nuno Gomes, símbolo do clube e escorraçado como figura menor, vetado a minutos breves de jogo (em que quase sempre marcava), são disso os maiores exemplos, a juntar às muitas quezílias, tumultos, arrufos e afins que marcaram seis anos na Luz.
Por tudo isto, é preciso que os Benfiquistas não reduzam o período de Jesus ao sucesso. Este texto demonstra bem que há muitos méritos, mas muitos deméritos. Nem tudo foram rosas. Como agora não são só espinhos. O investimento é o menor desde a época de Fernando Santos. Nos anos de Jesus o investimento foi sempre na casa dos 20 e muitos a 30 milhões. Rui Vitória nem 20 milhões teve para investir. Par além de que um líder muito carismático saiu ao fim de seis anos. Qualquer transição é complicada. Com uma pré-época mal planeada ainda pior. Por isso, ao invés de suspiros bacocos pelo passado recente (que já foi corrido da Champions como habitualmente), é preciso ser racional e perceber que é tempo de vacas magras e que não será fácil esta fase. O sucesso poderá ser uma realidade, mas depois de dois títulos e tão grande investimento dos rivais, o Benfica não pode ser o principal candidato, por muito que custe a todos.
E se o sucesso se afastar da Luz, certamente Rui Vitória será mais vítima que culpado. Não tem o arrojo (e simultaneamente soberba e caganeirice) do seu antecessor e isso não compra simpatias. Se dissesse que jogava o dobro e ganhava tudo a turba ia ao rubro, mas um discurso ponderado num momento de vacas magras não me parece errado.
É hora de apoiar, mesmo que as coisas corram mal, e deixar os fantasmas do passado onde pertencem. Ao passado. E sem esqueletos no armário pois não há motivo algum para tal! Jesus é um treinador competente, com muita experiência e qualidade a nível de Liga Portuguesa, mas muito aquém desse nível em termos europeus. Verdade é que nunca ganhou nada em Portugal até chegar à Luz, tendo sido treinador de equipas do meio e fundo da tabela durante 13 anos! Foi esse o tempo que levou para chegar ao Restelo, depois a Braga e finalmente à Luz. Rui Vitória precisou de bem menos tempo e com muitos mais resultados, sem nunca ter sido despedido... Não concluo que Vitória é melhor que Jesus. O tempo o dirá, sabendo-se que os argumentos ao dispor de ambos na Luz são, para já, bastante dispares. Comparações à parte, Jesus fica na história do Benfica, mas apenas isso. Na história. E o que interessa é o presente e o futuro!"




4 comentários:

  1. E que saiba o fulano não se reformou nem se finou... quem quiser que compre cachecol do JJ e se mude para o WC.
    Não fazem cá falta

    Marcio Santos

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  2. Ao contrário de muitos benfiquistas fiquei feliz, e escrevi-o em alguns foruns, com a saída do "cérebro" do Benfica. Estava farto, fartinho do sujeito.
    Quanto a Rui Vitória, embora não fosse a minha primeira escolha, acho-o um excelente treinador, com um discurso tranquilo. Com o actual plantel será muito difícil atingirmos o "tri", porque ao contrário da promessa de Vieira (mais uma) este treinador não tem, nem de perto, as mesmas condições do "catedrático". Seja como for apoio total a Rui Vitória.

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