sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ainda Cardozo

Contextualizando na história do Clube o "caso" do paraguaio, num artigo de Rui Miguel Tovar, ionline.

"Antigamente é que era: em 1953, um símbolo do Benfica sai do clube na semana em que se rebela no balneário

Mito urbano ou...? Programa da Amiga Olga, pergunta final para ganhar o prémio gordo.

"Qual o primeiro nome de Hitler?"

(Calma, muita calma, inspira, respira, inspira, respira.)

"Heil."

Dá para acreditar?

Mito urbano ou...? Final da Taça de Portugal, o Benfica acaba de perder no Jamor para o Vitória de Guimarães. No meio-campo, Oscar Cardozo sacode Jorge Jesus e estica o dedo indicador na direcção de André Almeida, o lateral-esquerdo desse jogo no lugar do paraguaio Melgarejo. Passam-se os meses de Junho e Julho e nada de nada. Cardozo não é multado nem chamado à razão.

Dá para acreditar?

Agosto, 87 dias depois da final da Taça de Portugal. O Benfica já está com a cabeça feita em água com a derrota nos Barreiros (Marítimo, 2-1) para o arranque do campeonato nacional e só agora decide arrumar a casa com a multa de 65 mil euros a Cardozo. Um empurrão vale isso. Dá para acreditar?

Lembra-se de Félix Antunes? Com um físico imponente e uma técnica de assinaláveis recursos, torna tudo mais fácil do que parece. Tem o dom dos predestinados e é o primeiro defesa- -central com categoria e classe como até então não era dado a ver-se. Estamos no pós-guerra (1945/46) e Félix Antunes impõe--se naturalmente no Benfica, após passar a infância e a adolescência a jogar nos Unidos Futebol Clube, sucursal da CUF, onde trabalha como operário.

Durante oito temporadas, Félix é uma referência na equipa do Benfica. Campeão nacional em 1949/50 e vencedor de quatro Taças de Portugal, é também um dos que levantam a Taça Latina no Jamor em 1950. A este vasto currículo, Félix junta 15 internacionalizações, a última das quais de má memória. Adenda à história: é o tempo dos cavalheiros, mesmo que o futebol seja visto como um desporto praticado por feios, porcos e maus.

No dia 27 de Setembro de 1953, a selecção portuguesa apanha 9-1 com a Áustria, em Viena, na qualificação para o Mundial-54. É a terceira derrota mais pesada de sempre de Portugal, após o 9-0 da Espanha (1934) e o 10-0 da Inglaterra (1947) - como prémio de consolação, a temível Áustria de Ocwirk e Probst acaba em terceiro lugar nesse Mundial.

Essa goleada traz águ(i)a no bico. Félix é titular, juntamente com os benfiquistas Rogério Pipi e José Águas, e é repreendido pela federação portuguesa por "comportamento inadequado". Acto contínuo, o Benfica multa-o com um conto de réis, uma fortuna para a época.

Menos de um mês depois, o mesmo Félix, então com 30 anos de idade (como Cardozo agora), volta a dar que falar pelos piores motivos. Na 3.a jornada, o Benfica perde em Setúbal, no Campo dos Arcos. Ao intervalo, 3-1. No final dos 90', 5-3.

No balneário, Félix excede-se: despe a camisola, atira-a ao chão, pisa-a e lança as botas ao ar em sinal de desagrado com o que quer que seja. Joaquim Ferreira Bogalho, presidente do Benfica, assiste a tudo isto, como o treinador Ribeiro dos Reis. Juntos, chegam a uma solução prática. Na semana seguinte, Félix já não está no Benfica, é despedido por desrespeito pelo clube e pelos companheiros de equipa. Dá para acreditar? Claro que sim, isto (ainda) não é nenhum concurso nem um espectáculo de variedades."

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